segunda-feira, 20 de abril de 2009

Escolhida para o Recital de Poesias:
À Dione Silva
SOU NEGRO

Sou negro
meus avós foram queimados
pelo sol da África
minh´alma recebeu o batismo dos tambores
atabaques, gongues e agogôs.

Contaram-me que meus avós
vieram de Luanda
como mercadoria de baixo preço
plantaram cana pro senhor do engenho novo
e fundaram o primeiro Maracatu.

Depois meu avô brigou como um danado
nas terras de Zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
escreveu não leu
o pau comeu
Não foi um pai João
humilde e manso.

Mesmo vovó
não foi de bricadeira
Na guerra dos malés
ela se destacou.

Na minh’alma ficou
o samba
o batuque
o bamboleio
e o desejo de libertação.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Lágrima de Preta

Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
(António Gedeão)